há uma casa sem janelas na esquina dos medos
paredes de porcelana telhado de ferro porta de papel
chão de sal
uma casa pequena de uma só pessoa
só
e há medos sem janelas nas esquinas das casas
com hologramas de tecto paredes e chão
portas de sombra
casas passagens de tempo de gente de ser
só
absurdos mudos cegos e loucos
pioneiros faróis de uma crença inesperada
os olhos
perdidos
de asas nas pálpebras
a comerem horizontes sem casas
e
ao abrigo do nome das coisas comuns
ao abrigo do nome das coisas comuns
a luz
aquela que nasce nas mãos das crianças
a ser o berço de toda a coragem
pó de ser
a abrir caminhos nos sulcos do ar
em linhas curvas ponteadas de cor
e de sonho
pó das asas
a fazer-se ocre sob o peso do espaço
pouco
que reside na efemeridade das horas
e já os olhos voam na luz
das mãos pequenas imensas dos filhos
os nossos
fazedores de ruas esquinas calçadas
e casas
vazias de medo
Rosário Alves
5 comentários:
Um pó de ser que só se forja após longa jornada...
Muito bem, Rosário!
Beijo :)
Um também nós seremos
de novo crianças
Excelente, Rosarinho. Faltam-me as palavras. O teu poema é soberbo. Continuas a ser capaz de uma luz inimitável que nos prende às palavras, como se quisesse reter-nos para nos salvar.
- Como nos salvam os nossos filhos. -
Beijinho imenso
É este um olhar fundo para dentro do lugar onde nascem todas as coisas que sentimos. É esta a delicada sensibilidade de reter nas mãos a essencia do pó que somos, todos nós.
Lindo, Rosário!
Obrigada!
Um beijinho
http://www.youtube.com/watch?v=hOFrGbuUqnQ&feature=related
beijo.
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