obtusa nas linhas em que me enquadro
desenquadrada das linhas com que me desenho
uma e outra vez
busca torpe de um traço perfeito
onde a exactidão é um emaranhado de sonhos desfeitos
alquimia alguma fará das nuvens leito
e de bugalhos podres não nascerão pérolas puras
na pira dos fins acabados de começar
um festim
alimento sinuoso que me revolta a pele
na penumbra
dos poros hesitantes
as heranças doces da primavera
sucumbem aos pés de um outono amordaçado
forçado a fingir-se de verão
sinais perenes de uma lucidez
excessiva
casta
desalinhada do tempo e do espaço
nos carris desfasados e in.dolentes
os seixos escreveram-me um destino na planta dos pés
e
como um junco à beira do vento
aguardo
a derradeira carruagem fluvial
aquela que se irá desprender
e despenhar
num mar a florir de promessas
Rosário Alves
4 comentários:
A tua poesia tem luz, mesmo na inquietação.
E aposto que o destino que trazes escrito na planta dos pés te há-de levar assim longe. A esse mar a florir de promessas.
Tens a minha admiração.
Beijinho grande, Rosarinho
http://www.youtube.com/watch?v=EFv7uVXJgp4&feature=related
beijo.
Não existem destinos
nem carruagens fluviais
existem ciclos de marés
onde tudo se conquista
sem promessas
Poema solto e belo
As pérolas puras nascem na planta dos pés. É o caminho que lhes serve de abrigo e nada é em vão nesse imenso tesouro.
Tal como a tua poesia, Rosário. Intensa e bela.
Um beijinho
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