14.2.11

é tão tarde que ainda é cedo


desperta-me um cansaço antigo
anterior ao parto das sombras por uma luz 
ainda prenhe de noites

os passos que sinto mansos como algodão
são os da madrugada ainda umbilical

é hora de olhar em volta
de buscar na claridade insone
a consistência do andar

ergo-me
desequilibro-me
caio

aninho-me nas raízes descalças das árvores
onde o inverno sempre me acolhe

volto a sentir o calor secular
e.terno da terra
a luz permanece irrepreensível no interior
humedecido das pálpebras

um pouco mais, penso
é tão tarde que ainda é cedo

repouso as pestanas no rosto
com a luz apontada à alma
e adormeço os sentidos
...cinco

Rosário Alves

1 comentário:

Parapeito disse...

:) Um poema que se cola à pele...
brisas doces*