6.2.11

luz


se eu quisesse
podia esperar-te sentada no escuro
e tu entravas em labareda
acendendo-me cânticos no olhar

podia aguardar-te nas esquinas da noite
e com um clic na ponta dos dedos
inauguravas-me ao mundo de vidro

ou podia seguir-te
de olhos em riste
volteando os dias num relógio de barro

podia tentar aprisionar-te
fazer-te escorrer da polpa para a palma
e encerrar-te no côncavo das mãos

ou podia fingir-me ausente de ti
embrulhando-me em doces penumbras
deixando crescer as unhas
a tapar a polpa dos dedos

se eu quisesse não falava de ti
baixava as pálpebras
de.morada.mente
para sempre

apenas acontece
que te agarraste às minhas pupilas
e fizeste ninho dentro da pele
vens à janela dos meus olhos
e lanças faíscas aos cantos dos lábios
e quando sorrio
sorrio por ti
por não existir nem um pedaço de tempo
ou de espaço
onde não te veja

nem a sombra nem a escuridão
podiam afirmar a tua ausência
mesmo que eu quisesse

luz

Rosário Alves

1 comentário:

Parapeito disse...

belo este poema de amor
"e quando sorrio, sorrio por ti
por não existir nem um pedaço de tempo
ou de espaço
onde não te veja"
Que assim seja sempre este amor luz
brisas doces*