desvirtuaram-se-me as palavras
nas areias permeáveis do acaso
aprisionei-as ao prazer da comunhão
do ar que reside no vácuo
anterior aos alicerces
a ausência reflectia-se nas paredes
como ventres desabitados mordidos pela sombra
e que sombra era essa que me cegava até à luz?
revirando-lhe o avesso e olhando
o ponto mais escuro de toda a escuridão
nem sombra tinha
amarfanhando-a no entulho hirto de geada
não sentiria frio nem a dor de ter sido amarfanhada
ainda esperei que um dia o sangue a habitasse
e que
rasgando-se os espelhos de papel
rasgando-se os espelhos de papel
de onde escorre a tinta das suas veias
se pudesse encarar e perguntar
-que sombra é isto? que sou eu?-
e guardasse a resposta
na gruta mais funda das almas errantes
errava errada
para as sombras os espelhos
para as sombras os espelhos
são portais de escuridão
agora
caminho solenemente pelo silêncio dos dias
e à noitinha aninho-me nos abrigos ainda perenes
que sempre me aguardaram de ramos abertos
certa de que alguns Invernos
podem conter todo o calor de um Verão
a Luz é incontornável a quem Ama
Rosário Alves
1 comentário:
Forte este poema
è bom quando se tem a certeza que alguns invernos...podem guardar o calor de um verão...
brisas doces****
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