26.1.11

sombra

desvirtuaram-se-me as palavras
nas areias permeáveis do acaso
aprisionei-as ao prazer da comunhão
do ar que reside no vácuo
anterior aos alicerces

a ausência reflectia-se nas paredes
como ventres desabitados mordidos pela sombra

e que sombra era essa que me cegava até à luz?
revirando-lhe o avesso e olhando
o ponto mais escuro de toda a escuridão
nem sombra tinha
amarfanhando-a no entulho hirto de geada
não sentiria frio nem a dor de ter sido amarfanhada

ainda esperei que um dia o sangue a habitasse
e que
rasgando-se os espelhos de papel
de onde escorre a tinta das suas veias
se pudesse encarar e perguntar
-que sombra é isto? que sou eu?-
e guardasse a resposta
na gruta mais funda das almas errantes

errava errada
para as sombras os espelhos
são portais de escuridão

agora
caminho solenemente pelo silêncio dos dias
e à noitinha aninho-me nos abrigos ainda perenes
que sempre me aguardaram de ramos abertos
certa de que alguns Invernos
podem conter todo o calor de um Verão

a Luz é incontornável a quem Ama

Rosário Alves

1 comentário:

Parapeito disse...

Forte este poema
è bom quando se tem a certeza que alguns invernos...podem guardar o calor de um verão...
brisas doces****