13.3.11

lapso


urgente cerrar os olhos
ante o prenúncio de uma visão inteira

as limalhas da noite ecoam no chão
como ricochetes de fogo
em câmara lenta
e é benigno o lapso
de tempo que derrama luz
no velho palco da vida

demoro-me na partida do olhar
e os dias despenham-se no solo 
como anos
e meses
férteis em horas

antes que as pálpebras
percam a memória do seu peso
já todas as décadas me aconteceram

a luz subtrai-se ao exterior
já estranho
e acrescenta-se à ausência do entendimento

os rumores longínquos não perturbam a tardia
alvorada

do lado de fora só a minha pele
e a prece do toque redentor
na embrionária profecia de outrora.

a parada segue o desfile de faíscas
que saltam em redondos trajectos 
dos ponteiros sisudos

no declive do universo, o sol e a lua
permanecem
contemplativos e
...indiferentes

Rosário Alves

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