no côncavo macio da alvorada
amanhecem-me as asas de hoje
as mesmas
de sempre
a noite é como um casulo
um ventre de onde renascemos a cada hoje
o dia um rasgo de pele a invadir-nos de luz
a iluminar a escolha por detrás de cada instante
e a vida a fazer-se
de asas recolhidas
de dias cuidadosos
à cautela
por amor à ordem segura de um espaço
que perfilhámos
ou a vida a fazer-se
de voos rasantes
pequenos e curtos
um discreto abrir e fechar
com uma rédea de amor a segurar o coração
à realidade: âncora e vela
mas
o sonho das asas crava-se na pele
como grampos de tempo perdido
e esses instantes ancorados em nós
voltam
hoje hoje e hoje
a cada madrugada
renovam-se nos poros
de onde brotam as asas
na memória brutal do ar
que não se cortou
um ar que se fez doce morno aprazível
propício à vida real instalada
e à morte de todos os sonhos
das asas
porque elas sonham voar
e quando as carregamos junto ao corpo
transformam-se em penas
as asas são o céu
que nos dorme no peito todas as noites
e nos eleva o corpo a ser alma
porquê?
para quê?
para que voemos
muito alto
e para muito longe
Rosário Alves
7 comentários:
Lindo!!!
e voar muito mais longe...
belo!
Beijinho.
Gosto quando deixas que os poemas te voem do peito. São de luz as asas dos teus dedos.
Beijinho grande, Rosarinho.
São sempre renovadas as asas de um amanhecer aceso pela paixão, pela luz amena de um estar vivo...
Um beijo
Quando as palavras têm vida por dentro
voam como pássaros
Se ao corpo entregamos a prisão das asas e não nos permitimos descobrir céu, que será dessa essência maior para que fomos feitos?
A liberdade essencial, é aquela que começa dentro do nosso peito e, sem limites, nos leva a abraçar o universo. Um universo que está ao alcance dos nossos dedos... dos teus, minha querida poeta.
e é tão belo o movimento das tuas asas!
Um enorme beijinho
De rumo à felicidade, olhar no horizonte,
voas liberta, passas lesta monte a monte,
o céu é teu, vento suave na face, brilhante
o sentimento nu, nas asas, o poema radiante,,,
Jorge Ramos
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