18.8.14

azul

                                       [aguarela: Maria Caroço]                                       


disse-te da janela que nunca abri
que não buscasses o entardecer
na sombra desse rio
e tu foste arrastar as montanhas
que se acumulavam sob a água
com esses dedos peregrinos
caminheiros da madrugada

disse-te baixinho num grito entaipado
que as tardes não chegam
a abandonar o mar
não navegam em sentido contrário
ao curso da água doce
que me atravessa a garganta
e que as árvores me amanhecem
do lado de dentro dos olhos
do lado de dentro das portadas
que mantenho fechadas

mas
há sempre um caminho que regressa
à luz que se ergue do sol
para o interior das nossas mãos
                                                 em ondas de azul

Rosário Alves

2 comentários:

Graça Pires disse...

Um poema muito belo!
Beijo.

Manuel Veiga disse...

gostei muito do poema.
doces paisagens dos sentidos,

beijo