[aguarela: Maria Caroço]
disse-te da janela que nunca abri
que não buscasses o entardecer
na sombra desse rio
e tu foste arrastar as montanhas
que se acumulavam sob a água
com esses dedos peregrinos
caminheiros da madrugada
disse-te baixinho num grito entaipado
que as tardes não chegam
a abandonar o mar
não navegam em sentido contrário
ao curso da água doce
que me atravessa a garganta
e que as árvores me amanhecem
do lado de dentro dos olhos
do lado de dentro das portadas
que mantenho fechadas
mas
há sempre um caminho que regressa
à luz que se ergue do sol
para o interior das nossas mãos
em ondas de azul
Rosário Alves
2 comentários:
Um poema muito belo!
Beijo.
gostei muito do poema.
doces paisagens dos sentidos,
beijo
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