imaginamos
sinais de orvalho nas manhãs que emergem
das
noites mais quentes e secas
do
estio da nossa alma
antecipamos
caminhos largos e floridos
nas
placas cimentadas do chão
onde
nos pregamos aos pés
e
pedimos ao sol que trespasse
as
densas nuvens do nosso inverno
interno
a cada
tempo queremos um outro tempo
em
cada espaço suspiramos por outro espaço
e nas
mãos de hoje vemos apenas
a
saudade dos toques de ontem
a
ânsia pelos gestos de amanhã
e as
marcas dos momentos que não vimos passar
fechamos
as janelas ao medo como se ele tivesse saído
para
passear os cães que nos guardam as portas
na
recusa de vermos que moramos numa casa
feita
de pele
sem
portas nem janelas
inalamos
o ar rarefeito no conforto aveludado de todas as coisas
exteriores
a nós
e
exteriores ao nosso medo
mas o
medo é um gato preto e manso
que se
deita no nosso ombro esquerdo
à
espera de um afago
para
se poder cumprir
e
quando o medo se cumpre
o medo
não
mete medo algum
temos
por baixo da pele uma vida feita de instantes
ausências
esperas
dores
angústias
risos
prazeres
instantes
de corpo de alma
e de
afagos
ao
nosso medo preto
no
olhar branco do nosso gato
manso
Rosário Ferreira Alves
5 comentários:
carpe diem...
um gato preto de pelo macio...
gostei muito. mesmo
beijo
Tantos são os azuis nos olhos dos gatos
Tantos são os azuis nos olhos dos gatos
Cheguei aqui através do Rui Féteira e ainda bem, porque é sempre bom ler quem escreve bem...
O medo que sentimos. O medo que vencemos...
Muito bom!
Um beijo.
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