quando dedilhamos as alvoradas
sabemos
sentimos na cabeça ponteiros
inventados
a hesitarem entre cada segundo
incontáveis eternidades
e é nesses lapsos de tempo em que os
ponteiros se demoram
que construímos os grandiosos mapas
dos sonhos
[com escalas bem medidas
caminhos jardins florestas
rios mares
desertos
casas
e poemas]
e puerilmente atiramo-nos para dentro
deles
a sermos outros dentro de nós
a estarmos connosco dentro dos outros
dentro de risos que abraçam memórias
conjuntas
ainda por construir
somos um futuro do passado que já
andámos
e deambulamos pela pele da nossa
infância
com a suavidade das luzes que assomam
nos cantos da boca das crianças
trazemos nos cabelos o brilho das
estrelas
e sentimos os pés na ponta dos dedos
como se não fossemos mais
ali no papel do nosso tesouro
do que meras impressões digitais
quando dedilhamos as alvoradas
sabemos
até onde nunca crescemos
Rosário Ferreira Alves
4 comentários:
Na verdade
sem palavras
Belo
Escrevesse aqui de uma forma pura. Quando nos publicamos? Mila
Pela senda do luar desenhando, desenhando mapas, desvendando "eus".
"...
sabemos
até onde nunca crescemos"
Tanto!...
Lídia
Leio e deixo que as palavras se entranhem, lentamente...
Que mais dizer? Apenas aplaudo.
Beijo :)
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