9.12.14

o desenho lento das partidas


em cada mão o desenho lento
das partidas
duas
porque parto assim que chego e
depois

só não parto
se nos teus olhos as minhas mãos
fico
só não parto se nas tuas mãos
os meus dedos impedidos
de seguir as rotas remendadas
ontem

só não parto
se no fundo da tua voz algum trémulo silêncio
aflorar nos teus lábios uma linha hesitante de
palavras por dizer
a quente
hoje

se no frio da despedida um instante

nada

se algum intenso nada me travar o pé
na beira da cama
morna
da manhã
amanhã

em cada mão o desenho súbito
das chegadas
antes

do tempo



Rosário Ferreira Alves

2 comentários:

Manuel Veiga disse...

o marulhar das ondas em teu poema. e o ritmo...

entre partir e chegar - o instante que é tudo.

muito belo

beijo

Graça Pires disse...

Entre a partida e a chegada, apenas a nitidez do poema. Excelente.
Um beijo, minha amiga e desejos de um bom Natal.