23.7.13

quando dedilhamos alvoradas


quando dedilhamos as alvoradas
sabemos

sentimos na cabeça ponteiros inventados
a hesitarem entre cada segundo
incontáveis eternidades

e é nesses lapsos de tempo em que os ponteiros se demoram
que construímos os grandiosos mapas dos sonhos

[com escalas bem medidas
caminhos jardins florestas 
rios mares desertos 
casas
e poemas]

e puerilmente atiramo-nos para dentro deles
a sermos outros dentro de nós
a estarmos connosco dentro dos outros
dentro de risos que abraçam memórias
conjuntas
ainda por construir

somos um futuro do passado que já andámos
e deambulamos pela pele da nossa infância
com a suavidade das luzes que assomam
nos cantos da boca das crianças

trazemos nos cabelos o brilho das estrelas
e sentimos os pés na ponta dos dedos
como se não fossemos mais
ali no papel do nosso tesouro
do que meras impressões digitais

quando dedilhamos as alvoradas
sabemos

até onde nunca crescemos

Rosário Ferreira Alves

4 comentários:

Mar Arável disse...

Na verdade

sem palavras

Belo

Anónimo disse...

Escrevesse aqui de uma forma pura. Quando nos publicamos? Mila

Lídia Borges disse...


Pela senda do luar desenhando, desenhando mapas, desvendando "eus".

"...
sabemos
até onde nunca crescemos"

Tanto!...

Lídia


AC disse...

Leio e deixo que as palavras se entranhem, lentamente...
Que mais dizer? Apenas aplaudo.

Beijo :)